ENTREVISTA nº 3 - LUCIANA FÁTIMA, pesquisadora do escritor Álvares de Azevedo.
Edição
Final em 25 de Janeiro de 2021.
INTRODUÇÃO
Saindo um pouco do mundo das traduções, trago nesta terceira entrevista a pesquisadora Luciana Fátima que tive o prazer de conhece-la pelo Instagram após fazer uma postagem sobre um trecho da obra Noite na Taverna, do grande poeta brasileiro, Álvares de Azevedo, um poeta paulistano de nascença, mas carioca de coração, que infelizmente não conseguiu concluir os estudos de Direito na Faculdade de Direito da USP, mais conhecida como Faculdade de Direito do Largo São Francisco, chegando ao 4º de 5 anos de curso, mas devido ao seu precoce falecimento aos 20 anos de idade por motivos ainda discutíveis, não tivemos a oportunidade de saber se ele seguiria esta carreira ou a que lhe veio por vocação, a de letras. Um espetacular escritor que em pouquíssimo tempo de vida escreveu importantes obras que são objetos de estudo até hoje, dentre elas, as mais famosas: Lira dos Vinte Anos, Macário e Noite na Taverna, ainda deixando fragmentos de poesias e textos que são pesquisados e talvez vejam a luz do dia em um amanhã qualquer. Pertencente à escola do Ultrarromantismo, a segunda fase do Romantismo Brasileiro, podemos incluí-lo no grupo dos poetas malditos, pois ele não só se prendeu ao estilo ultrarromântico, ele já navegava por mares simbolistas e modernistas, demonstrando uma habilidade muito forte para prosa, além das poesias, sendo inegável a sua herança que passa de geração a geração e mantém seu nome mais vivo do que nunca.
Ao menos para mim, quando morrem jovens do quilate de Álvares, que até Machado de Assis se impressionou, me deixam a divagar qual caminho estaria seguindo ele se tivesse tido a oportunidade de continuar a escrever, bem, é sobre isso, sobre as influências sofridas, a Morte e os demais temas chocantes para a época os quais ele abordou, o status quo do período imperial brasileiro, entre outras coisas que a pesquisadora nos ajuda a elucidar, bem, não vou ficar dando spoilers aqui, então espero sinceramente que curtam tanto quanto eu a pequena viagem literária ao mundo de Manuel Antônio Álvares de Azevedo, ou Álvares de Azevedo para o grande público, ou somente Maneco para seus familiares.
Foi um imenso prazer em conhecer a Luciana e agradeço fortemente pela gentileza em compartilhar com o blog um pouco do seu tempo e conhecimento nesta entrevista que, propositalmente, tem 13 perguntas! Abaixo segue uma pequena apresentação da pesquisadora e autora dos dois livros sobre o poeta:
Sigam-na no Instagram: @luciana_fatima_
Livros publicados por ela:
· Álvares de Azevedo: o poeta que não conheceu o amor foi noivo da morte (publicado em 2009 pela Editora Annablume);
·
Delírio,
poesia e morte: a solidão de Álvares de Azevedo (publicado em 2015 pela Editora Estronho).
APRESENTAÇÃO, PELA PRÓPRIA PESQUISADORA
Iniciei minha carreira na área empresarial,
na qual atuei por mais de 20 anos trabalhando com gestão e desenvolvimento de
pessoas, estratégias de desempenho e resultados, educação corporativa, etc.
Nesse ínterim, especializei-me na língua inglesa e espanhola, tendo lecionado o
inglês por mais de dez anos, e trabalhado simultaneamente na área de tradução.
Ao redirecionar minha carreira para a área acadêmica, cursei pós-graduação em
Língua Portuguesa e Literatura, fiz mestrado em Comunicação/Fotografia (minha
graduação inicial foi em Comunicação/Produção Editorial), e uma miríade de
cursos livres voltados a essa área do conhecimento. Como pesquisadora
independente, produzo conteúdos para Instituições de Ensino Superior, bem como
para publicações nas áreas de comunicação e literatura. Especialmente sobre o
poeta Álvares de Azevedo e o Ultrarromantismo, ministrei cursos e palestras em
instituições como Casa das Rosas e Biblioteca Mário de Andrade (SP) e também
em eventos em outras cidades.
ENTREVISTA
1. Primeiramente, Luciana, agradeço pela atenção e o tempo dispensados
à entrevista. Ao ver seu Instagram (@luciana_fatima_), me chamou a atenção ver
que você se descreve como “Pesquisadora. Autora de livros e artigos sobre o
poeta Álvares de Azevedo e o Ultrarromantismo”. Desde quando surgiu seu
interesse no escritor ultrarromântico, há quanto tempo você vem dedicando ao
escritor e ao estilo e quais são as características dele que mais lhe impressionam?
LF: Eu
que agradeço o interesse pelo meu trabalho. Não consigo precisar o momento
exato em que meu entusiasmo por Álvares de Azevedo surgiu. Sempre gostei muito
de ler e meu primeiro contato com a Lira
dos vinte anos despertou certa curiosidade; queria saber mais sobre a vida
e a obra do autor e fiquei impressionada tanto com seus outros livros quanto com
a genialidade precoce por trás de todos aqueles textos. Em 2005, iniciei uma
pós-graduação e direcionei minhas pesquisas ao Romantismo, especificamente a
segunda fase do movimento, o Ultrarromantismo, do qual Álvares de Azevedo é um
dos principais representantes.
2. Você já escreveu o livro “Delírio, Poesia e Morte – A Solidão
de Álvares de Azevedo” e está escrevendo “Álvares de Azevedo – O Poeta que não
Conheceu o Amor, Foi Noivo da Morte”, conte-nos um pouco a respeito de suas
obras sobre o poeta e sobre esse poema inédito a ser investigado.
LF: Na
verdade, O poeta que não conheceu o amor foi noivo da morte é meu
primeiro livro sobre ele.
Antes
de começar a estudar mais estruturadamente a vida e a obra do poeta, eu tinha
apenas uma vaga ideia de sua relevância. Conforme mergulhava nas pesquisas,
todo um universo se abriu diante de mim. O resultado disso foi a monografia da
pós, que se transformou no livro Álvares de Azevedo: o poeta que não conheceu
o amor foi noivo da morte (publicado em 2009 pela Editora Annablume). Continuei
lendo e pesquisando de maneira independente. Resolvi, então, escrever um
romance biográfico: Delírio, poesia e morte: a solidão de Álvares de Azevedo
(publicado em 2015 pela Editora Estronho), uma espécie de diário em que ele
próprio narra episódios de sua vida, entremeados com trechos de suas obras e
cartas. Mesmo sendo um livro abrangente, algumas particularidades ficaram fora
dele. Ou seja, havia espaço para outra publicação, desta vez escrita a quatro
mãos com meu parceiro, Arlindo Gonçalves, pesquisador da vida de Ian Curtis,
vocalista da banda britânica Joy Division. Ad infinitum: réquiem para Álvares de
Azevedo e Ian Curtis (publicado em 2019 pela Editora Sebo Clepsidra) é
uma ficção em que os dois protagonistas filosofam sobre a vida e a morte.
Há
algum tempo, quando o primeiro título esgotou-se, planejei reescrever o texto e
acabei conseguindo encontrar tempo agora, em meio à pandemia. Trata-se de um
novo livro, sem o rigor acadêmico exigido pela monografia; ou seja, um ensaio,
no qual eu aprofundo minhas análises e comento um poema relativamente
desconhecido de Álvares – uma obra em que encontrei sua essência poética.
Espero conseguir publicar esse novo trabalho em 2021, para homenagear aos 190
anos de seu nascimento!
3. Álvares escreveu poemas, contos e também teatro, além de
tradutor. Qual dos “Álvares” lhe impressiona mais?
LF: O
Álvares que mais me impressiona, na verdade, é o jovem Manuel Antonio, que
ficou conhecido como Álvares de Azevedo – o ser humano por trás do autor. O
crítico Antonio Candido disse: “Álvares de Azevedo é o que não podemos apreciar
moderadamente; ou nos apegamos à sua obra, passando por sobre defeitos e
limitações que a deformam, ou a rejeitamos com veemência, rejeitando a magia
que dela emana”. Desnecessário dizer que aprecio demais essa magia que emana da
obra do Álvares, mas eu nunca vou cansar de me impressionar com o jovem “Maneco”,
apelido pelo qual familiares e amigos o chamavam. Álvares conquistou um título
de bacharel com praticamente 15 anos; iniciou os estudos jurídicos aos 16,
quando retornou a SP. E basicamente toda sua obra (prosa e poesia, teatro,
ensaios literários e discursos fúnebres) foi produzida nesse período em que
estudava na Faculdade de Direito (1848-1852). É uma produção consideravelmente
grande para tão curto espaço de tempo, e também para um rapaz tão jovem que,
infelizmente, não teve tempo de lapidar seus escritos ou mesmo de decidir o que
seria ou não publicado.
4. Você já leu a tradução de Parisina, de Byron, e o
quinto ato de Otelo, de Shakespeare, feita por Álvares? Como você o veria
como tradutor, se ainda estivesse vivo? Vi que ele estudou inglês, francês e
latim, mas notava-se a preferência pelo idioma inglês.
LF: Sim,
conheço as traduções feitas por Álvares. Acredito serem exercícios feitos não
apenas por ele, mas pelos estudantes da Faculdade de Direito, na época. Não
havia abundância de livrarias ou de editoras em SP; o acesso a materiais
impressos era difícil, os livros eram quase todos importados, ou seja, além de os
rapazes lerem no idioma original (o que era bem comum), eles se reuniam para
compartilhar as leituras e traduções que faziam; debatiam literatura,
filosofia, política, etc.
Honestamente,
tenho minhas dúvidas se Álvares seguiria uma carreira literária. Por pertencer
a uma família de relativa importância, creio que ele teria seguido os passos do
pai e acabaria sendo absorvido pela vida jurídica ou mesmo política. Talvez até
escrevesse alguma coisa – como fez seu amigo Bernardo Guimarães –, mas acho que
seu futuro não estaria ligado às letras. Essa é minha impressão, mas jamais
saberemos.
5. Lira dos Vinte Anos, uma obra incompleta e que
era para ser dividida em três partes e em conjunto com Aureliano Lessa e
Bernardo Guimarães. O que aconteceu de fato para não ter acontecido como uma
composição conjunta?
LF: Álvares
idealizou a obra em duas partes. Foi em Lira dos vinte anos que ele
construiu sua teoria da “binomia” e a justificou como as duas almas que
habitavam seu cérebro de poeta (Ariel e Calibã, de Shakespeare): a primeira
parte descrita como “monodia amorosa”; a segunda, como “sátira mordaz”. Ele
costumava criar teorias nos prefácios de suas obras; fez isso em várias delas,
como na Lira, no Conde Lopo e Macário. As publicações da Lira
feitas após sua morte é que foram adicionando uma terceira parte com poemas
esparsos.
Sobre
a publicação com Aureliano Lessa e Bernardo Guimarães, foi um projeto de reunir
os poemas em um livro que se chamaria As três liras. Conforme mencionei
anteriormente, não era fácil imprimir e publicar livros em SP. A produção dos
três também não era muito regular; de Aureliano, por exemplo, temos
pouquíssimos poemas, se compararmos à quantidade produzida por Álvares e
Bernardo. O fato que pôs fim ao projeto dos amigos foi a morte precoce de
Álvares de Azevedo.
6. As principais influências do poeta, mais notadas, foram:
Goethe, Byron, François-René de Chateaubriand e Alfred de Musset, mas há
estudos sobre a presença da estética hugoana do “feio” presente em sua escrita.
Certamente notamos na prosa de Álvares de Azevedo, as características de um
poeta maldito. Em Macário, o encontro dele com Satã se compara ao
de Fausto, de Goethe, e Mefistófeles. Como você definiria as
influências literárias sofridas por Álvares nesta obra? e quais características
ele pode ter adiantado de outras escolas, como o Simbolismo, por exemplo?
LF: De
acordo com as cartas que chegaram até nós, temos evidências de que Álvares lia
desesperadamente. Suas influências são inúmeras e as mais variadas; assim,
encontramos ecos de seus ídolos literários ao longo de todos seus textos, como
fica explícito nas primeiras páginas de Macário – que, aliás, deve seu
nome a uma peça com atuação de João Caetano que Álvares assistiu no RJ. O poeta
estava imerso em um movimento importante e de ruptura, mas ele não era o único.
Lendo a produção de outros poetas da época, muitos soam bem parecidos. Isso era
fruto das leituras, que eram basicamente as mesmas para todos. No entanto,
Álvares estava à frente de seu tempo. Além da influência de Fausto, há uma
miríade de aspectos interessantíssimos a serem analisados em Macário –
por exemplo, o que Antonio Candido chamou de “construção literária de São
Paulo”. Escrevi um extenso prefácio para uma edição de Macário que está
prevista para sair este ano. Vamos torcer!
7. Em Noite na Taverna, minha obra preferida
dele que é formada por sete contos primorosamente “costurados”, uma obra chocante
para os padrões conservadores da sociedade imperial brasileira, em 1855, por
apresentar temas nunca antes abordados como necrofilia, canibalismo,
assassinatos, violência sexual, alcoolismo, envenenamento, entre outros. Vemos
o grotesco e o extraordinário como características presentes nestes sete
contos, então poderíamos dizer que ele bebeu na fonte de Edgar Allan Poe?
Muitos destes temas são abordados em suas obras. Embora eu não tenha lido que
este foi uma fonte de inspiração, podemos considera-lo como uma? E sobre Noites
Lúgubres, do espanhol José Cadalso, nota-se uma forte influência,
correto?
LF: Álvares
de Azevedo conhecia Poe, ele chega a citar o poeta d’O Corvo, mas eu não sei se
o americano foi influência direta para Noite na taverna. Consta que Noites
Lúgubres era leitura obrigatória aos estudantes românticos de SP no século
XIX, acabando por ser considerado quase como a inspiração oficial do Noite
na taverna. É possível ter havido influência de Poe também, mas eu nunca
pesquisei sobre isso, portanto, não tenho convicção para afirmar.
Quanto
a chocar os padrões conservadores da época, Álvares era conhecido como o “Byron
brasileiro”, sendo assim, nada mais natural do que emular o mestre. O poeta
chega a fazer uma provocação no prefácio de O conde Lopo sobre a suposta
imoralidade na literatura, citando Don Juan, o poema satírico de Byron,
e a devassidão dos poetas clássicos, bem como as figuras nuas de Michelangelo.
Ele era um jovem ousado e queria mesmo escandalizar a sociedade!
8. Embora Charles Baudelaire tenha lançado o icônico As
Flores do Mal em 1857, obra-chave do Simbolismo Francês (sendo um
escritor fortemente influenciado por Edgar Allan Poe) notamos muitas
características estéticas comuns entre ele e Álvares de Azevedo, vistas
principalmente em Noite Na Taverna, de 1855, como a intenção
de chocar, o grotesco, o macabro, a morte, a taverna, etc. Há algum indício de
que Álvares estaria seguindo pelo mesmo caminho de Baudelaire em seus poemas?
Você consideraria Álvares um escritor de vanguarda por antecipar muitas
características simbolistas?
LF: Acho
que – para usar o título de Alfred de Musset – eles eram todos “filhos do
século” e flertavam com o mal du siècle. Os ídolos literários de Álvares
traziam, tanto em sua obra quanto em sua vida, a marca dessa crise de valores e
crenças. É importante lembrarmos que o nosso Romantismo, por exemplo, acontecia
juntamente com a independência do país e era acompanhado de um sentimento
nacionalista, um desejo de libertação das influências portuguesas, de se criar
uma literatura genuína – aliás, Álvares acreditava que ainda não havia se
desenvolvido no país, até aquele momento, uma literatura verdadeiramente
brasileira, o que existia era apenas uma extensão da literatura portuguesa. Ele
defendia que deveríamos buscar uma espécie de literatura universal. Daí,
talvez, seus temas seguirem essa linha.
Acredito
que, mais do que antecipar o Simbolismo, identificamos em Álvares um alto nível
de experimentações vanguardistas que chegou a alcançar algumas características
do Modernismo. Ele se preocupava muito em incorporar elementos inovadores em
sua literatura e foi pioneiro em uma série de coisas, por exemplo, ao incluir
objetos cotidianos em sua lírica.
9. A respeito da Morte, uma personalidade sempre presente
em suas obras, como Álvares a via? Como de uma companheira de vida (uma pura
ironia)? Uma amiga? Um personagem recorrente ou outra definição?
LF: Podemos
encontrar várias “mortes” na obra alvaresiana. Em sua vida, a Morte veio cedo;
Álvares nem bem completara quatro anos de idade quando seu irmãozinho morreu e
virou Anjinho (um de seus poemas famosos). Ao ingressar na Faculdade de
Direito, ela ressurgiu levando seus colegas e trazendo a oportunidade de ele
produzir belíssimos discursos fúnebres. Isso trouxe também a sensação de que
ela viria a seu encontro a qualquer momento – em uma espécie de premonição de
seu precoce desaparecimento. Na obra, surgiu como punição, como libertação,
como musa, até ocupar seu lugar de par eterno do amor.
No meu
próximo livro, a morte na obra alvaresiana ocupa um lugar de destaque. Há um
capítulo em que analiso dois poemas com essa temática e um capítulo para
discutir essa “personificação” da morte – enquanto ser que perpetua, de certa
forma, o amor.
10. Além do poema inédito já mencionado, o que você tem
encontrado de novidades em suas pesquisas sobre o escritor que a mídia ainda
não teve acesso? Ainda há muitos poemas perdidos? A família ajuda ou dificulta?
LF: Estudar
a vida e a obra de Álvares de Azevedo é sempre uma aventura. Ainda que muitos
teóricos tenham se debruçado sobre essa pesquisa, sua poética reserva muitas
possibilidades de interpretação. Por isso, creio que esse é um tema
inesgotável. Há rumores sobre textos desaparecidos e que teriam se perdido com
o passar dos anos, mas não acho que ainda haja algo para ser descoberto. Luís
Antonio da Silva Nunes, grande amigo de Álvares, na introdução de O conde
Lopo, disse que a mãe do poeta possuía uma grande quantidade de manuscritos
inéditos, mas esses textos nunca apareceram. Praticamente todos os irmãos dele
morreram muito jovens; não sobrou muita gente da família para cuidar da obra,
portanto, o que temos é somente o que chegou até nossos dias mesmo.
11. Como você vê a geração atual em contato com a obra de
Álvares de Azevedo?
LF: O
que posso dizer é que tenho o prazer de encontrar muita gente (tanto jovens
quanto “jovens há mais tempo”!) interessada em Álvares de Azevedo. E
isso me deixa muito feliz! A internet também ajuda bastante, e creio que tem
ajudado a disseminar e perpetuar suas palavras. Isso é facilmente observável
com uma simples consulta. Quando buscamos por Álvares de Azevedo no Google, o
resultado é de aproximadamente 5.220.000 de resultados, em 0,74 segundos.
Encontramos
de tudo: sites, blogs, páginas de redes sociais, vídeos com declamação de
poemas e uma infinidade de outras coisas. Acredito que ele ainda inspira muitos
poetas a criarem seus próprios versos – e também prosa. É triste admitir, mas a
leitura e a literatura não são exatamente prioridades no Brasil, mas sempre que
participo de algum evento sobre o Álvares, conheço pessoas muito apaixonadas
por sua obra e isso me deixa bastante otimista.
12. Li o livro Capital da Solidão, de Roberto Pompeu de
Toledo, e lá está Álvares descrito como como frequentador das festas casa da
Marquesa de Santos, mas que detestava viver em São Paulo, sempre saudoso do Rio
de Janeiro. Em quais outras obras já lançadas podemos encontrar descrições ou
histórias sobre ele?
LF: Álvares
é uma das figuras mais importantes do nosso Romantismo. É bem fácil encontrá-lo
em livros que tratam da SP do século XIX ou daquele período histórico-literário
– desde paradidáticos, em que ele aparece como personagem, até histórias em
quadrinhos do Noite na taverna. Para citar alguns dos mais interessantes
de que me lembro agora, ele é personagem no livro de Alberto Martins, Uma
noite em cinco atos, que é uma peça de ficção na qual os poetas Álvares de
Azevedo, Mário de Andrade e José Paulo Paes debatem os destinos da poesia e da
cidade no século XXI. Álvares aparece também em uma belíssima adaptação do
quadrinista Davi Calil, Uma noite em L’Enfer, em que personagens como Van
Gogh, Toulouse-Lautrec e Goya relembram suas histórias de amor e morte sentados
a uma mesa, bem ao estilo de Noite na taverna. E Azevedo contracena com
os estudantes Aurélio e Belmiro no delicioso romance de Bernardo Guimarães, Rosaura,
a enjeitada, verdadeiro hino à amizade, que imortaliza os três companheiros
da Sociedade Epicureia nos personagens de obra.
13. Pra encerramos estrategicamente em nossa décima terceira
pergunta, você imagina que a obra de Álvares vai continuar impactando as
gerações vindouras e seus escritores? Como você faria essa projeção?
LF: Amor
e morte são eternos, e a obra de Álvares trata desses temas atemporais. Por
isso, acho que ele continuará impactando escritores para sempre! Claro que
posso estar exagerando, porque sou suspeita para falar desse assunto. Mas
acredito que sua poética é, ainda hoje, tão apreciada porque ele era um ser
solitário e também escrevia sobre isso. Sabemos que ele sentia falta da família
e dos amigos que estavam longe. E esse sentimento era muito específico; era a
solidão do desterrado, de quem não encontra amigos verdadeiros, de quem tem
saudades sem saber do quê... Quem nunca sentiu isso pelo uma vez na vida?
Acabamos por nos identificar (também, entre outras coisas) com esse lado dele.
Acredito firmemente que, enquanto houver esse tipo de sentimento no mundo, a
lira alvaresiana continuará tocando o coração das pessoas!
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