TRADUÇÃO LITERÁRIA - UM INÍCIO ARRISCADO

 

                Como eu entrei nessa área tão específica de tradução literária? Voltando longinquamente no tempo, exatamente para 1994, me lembro da primeira tentativa de “tradução literária” que quis fazer aos meus 14 ou 15 anos, se me lembro razoavelmente, era uma história em quadrinhos, uma edição “Spider-man - #53 – Separation Anxiety pt. 4 of 4” com o Aranha Escarlate entrando no Universo Marvel, bem interessante naquela época. Embora quadrinhos não sejam considerados como literatura, de um modo geral, eu os considero como um misto de arte moderna  + literatura, mas sem os elementos que caracterizam a literatura como a conhecemos, talvez uma literatura marginal, uma literatura à parte, não saberia ao certo, pois há adaptações de literatura para quadrinhos que se tornam verdadeiras obras de arte, quiçá, em tempos futuros os conceitos mudem, enfim, o fato de tentar traduzir esta revista, comprada no Natal de 1994, me deu uma vontade enorme de tentar, pois ela só chegaria no Brasil em 1998 e como sempre, éramos muito defasados nos lançamentos, os simultâneos ainda demorariam muito tempo para acontecer aqui, a Editora Abril era horrível e tinha uma qualidade péssima de impressão e arte comparada ao que a Panini faz hoje


No aspecto tradutório, foi uma vã e frustrante tentativa de traduzir com um desatualizadíssimo dicionário Michaelis onde eu não encontrava sequer nenhuma das gírias ditas - o que predomina na linguagem quadrinista, o extremo da informalidade, a linguagem de como conversamos na rua, com nossos colegas, amigos -, foi uma experiência linguística bem expressiva mesmo quando eu nunca tinha ouvido falar da palavra, por sinal. Passei anos buscando e perguntando a amigos que “sabiam” inglês, pesquisando as palavras e termos em outros dicionários, glossários, mas nada, eu não tinha acesso à internet e esta ainda estava em seus primeiros passos, muito sem recursos, então eu consegui ter somente uma ideia das palavras quando consegui fazer um par tradutório com a revista traduzida que comprei em 1998 e, apesar do choque, finalmente pude entende-la e ver como eu era um perfeito ignorante em inglês!

Hoje, 23 anos após a frustrante experiência, desde 1998, venho com uma verdadeira tentativa de tradução literária, pois escolhi o ensaio de George Orwell - um dos meus escritores favoritos – chamado “Notes on Nationalism” que não possui qualquer tradução/publicação em português brasileiro, então vou tentar ser pioneiro ao menos nessa. Digo que é um início arriscado, pois tentei reproduzir a linguagem de Orwell o mais fielmente possível, sou habituado com a linguagem de seus livros e sua abordagem jornalística do tema e sei que, por exemplo, os tradutores brasileiros não traduzem a palavra intelligentsia, sinônimo da intelectualidade ou classe de intelectuais de um país, no caso, ele sempre critica a inglesa. Eu tive dificuldades de contextualizar fatos políticos ingleses da primeira metade do século XX, além de outras expressões. Espero que minha escolha tenha sido apropriada e agora que disponho de recursos como dicionários online, o Google e a ferramenta que mais vem me ajudado, o Microsoft Translator, aquele que vem dentro do Microsoft Word. Sei que estou fazendo um merchand, mas nunca ouvi uma só palavra de ninguém que o utilize. Os dados estão lançados, então que venham as críticas, pois me fazem crescer e me tornar uma melhor pessoa e profissional. Explicarei no próximo tópico o motivo de eu ter escolhido Orwell como estreia.

PS: O Antigo Michaelis hoje repousa no acervo da Biblioteca Mário de Andrade.

 

Caio Alexandre Zini, o tradutor e auto editor.

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