Filme nº 7 - O MÁGICO DE OZ (1939), de Victor Fleming.

 
O MÁGICO DE OZ (1939) [THE WIZARD OF OZ] - Esta adaptação cinematográfica do clássico da literatura infantil escrito por L. Frank Baum em 01/09/1900, dirigida por Victor Fleming e lançada pelos estúdios da Metro-Goldwyn-Mayer (MGM) - aquela do leão -, seria a quarta versão para o cinema, sendo precedida por três versões anteriores, sendo a primeira gravada em 1910, também chamada de O Mágico de Oz, sendo sucedida por O Feiticeiro de Oz, em 1935 e finalmente A Terra de Oz, em 1932, sendo a sequência do primeiro, mas todos foram malsucedidos nas bilheterias, não passando pelo crivo do público.

O livro com a capa original, por W.W. Denslow

Para criar este conto de fadas americano, o escritor L. Frank Baum buscou inspiração, principalmente, em outro clássico, aquele de Lewis Carrol, Alice no País das Maravilhas, além de beber nas germânicas fontes dos Irmãos Grimm e de Hans Christian Andersen. Façamos um paralelo entre as heroínas Dorothy e Alice, as forças motrizes de ambas as obras, além de outras influências, como a presença de magos e seres fantásticos e a semelhança entre a Rainha Vermelha x A Bruxa Má do Oeste e a Rainha Branca x A Bondosa Bruxa do Sul, mas paremos por aqui.  Quem deu vida a toda essa fantasia de L. Frank Baum foi o ilustrador estadunidense, W. W. Denslow e suas magníficas cores. O livro é de natureza fantástica-maravilhosa.

O diretor Victor Fleming buscou inspiração em outro clássico recém-lançado, A Branca de Neve, do ano de 1937, apenas dois anos antes por Walt Disney que provou a rentabilidade de animações infantis. Ele realizou talvez a mais dispendiosa e extravagante produção da época, considerando que as personagens eram vividas por atores reais e não desenhos animados, então aqui foi o berço de muito desenvolvimento de pesadas e caras fantasias que podemos encontrar relatos pela internet de quão incômodo, e em alguns casos, torturante, foi usá-las.  

No elenco constam: 

  • Judy Garland como Dorothy; 
  • Frank Morgan como o Mágico de Oz; 
  • Ray Bolger como o Espantalho; 
  • Bert Lahr como o Leão Covarde;
  • Jack Haley como o Homem de Lata;
  • Billie Burke como Glinda, a Bondosa Bruxa do Sul;
  • Margaret Hamilton como a Malvada Bruxa do Leste; 
  • Toto, o cão.

Posso estar completamente enganado, mas creio que a Marvel e a DC Comics pegaram muita influência para seus quadrinhos, como o Homem de Lata x Homem de Ferro; o Espantalho que serviu de inspiração para o homônimo inimigo do Batman; o Leão e o Fera, dos X-Men; A Bruxa Má e o Duende Verde. Talvez esteja errado, mas me passa uma impressão que não. Importante mencionar que as duas editoras se uniram para publicar uma versão em quadrinhos desta fantástica história.

A trama começa contando a vida de Dorothy na fazenda de seus tios, Henry and Tia Em, no interior do Kansas, onde mora - parte exibida em cor sépia -, e arruma uma baita encrenca com a vizinha, a encrenqueira Sr.ª Gulch, que foi mordida pelo cão de Dorothy, Toto, quando eles atravessavam a propriedade dela. Sem pestanejar, sendo muito influente na cidade ela consegue facilmente uma ordem judicial para tirar o cão de  Dotothy e pô-lo em custódia, então vai à fazenda dos tios para buscá-lo e o leva na cesta de sua bicicleta para a polícia na cidade, porém Toto, muito esperto, escapa e volta à Dorothy que rapidamente foge com ele da fazenda e na estrada encontra um vidente charlatão que mora em sua carruagem, o Professor Marvel, que diz a ela que sua Tia Em está de coração partido com a sua fuga e ao notarem a vinda de um ciclone, Dorothy e Toto retornam à fazenda, mas quando chegam, tarde demais, seus tios e os três empregados já se abrigaram no abrigo para estas ocasiões. Ao entrar em casa, Dorothy vê cada vez mais o ciclone se aproximar e a janela se abre abruptamente a acerta em sua cabeça. Ao acordar, ela vê que a casa foi tragada para dentro do ciclone e está girando dentro dele, então vê a imagem de todos passarem pela janela e a Sr.ª Gulch em forma de bruxa e voando em sua vassoura, gargalhando, até que a casa aterrissa. 

A Bruxa, Dorothy e Glinda, na terra dos Munchkins

 Até este momento, a cor do filme foi exibida em sépia, mostrando a vida monótona e monocromática de Dorothy, sem graça sem se sentir amada, se sentindo uma invasora na casa dos tios e que lá não era seu verdadeiro lar. Ao acordar e sair da casa, automaticamente a cor sépia se vai e tudo fica colorido - um milagre chamado Technicolor -, e a terra de Oz se apresenta a ela, musicalmente, assim como Glinda, a boa bruxa do sul, que a saúda e lhe parabeniza por ter livrado a terra dos Munchkins da Malvada Bruxa do Leste, mas em questão de minutos, sua irmã, a Malvada Bruxa do Oeste, chega voando e ameaça Dorothy que a pegará quando estiver fora da terra dos Munchkins, onde não tem poder. Glinda a aconselha a seguir pela Estrada de Tijolos Amarelos até a Cidade Esmeralda em busca do poderoso Mágico de Oz que a ajudará a voltar pra casa, mas com dois importantes avisos: que nunca se desvie da estrada e que não tire os sapatos rubi da Malvada Bruxa do Leste que morreu, mas eles a protegerão. Eis que ela canta "Somewhere Over the Rainbow" e torna a canção famosa até hoje. Aí começa sua grande aventura, conhecendo os demais personagens ao longo do caminho: o Espantalho que queria um cérebro; o Homem de Lata, que queria um coração; e o Leão Covarde, que queria coragem! Após passarem pelos ataques da Bruxa, chegam até a Cidade Esmeralda para se encontrarem com o famoso Mágico que, para lhes conceder seus desejos, impõem-lhes uma condição: trazer a vassoura da Bruxa. Eles vão ao castelo dela e a derrotam, de uma maneira surpreendente, depois trazem a vassoura ao Mágico e descobrem que ele na verdade é um cientista que usa a ciência como magia para conquistar o respeito dos moradores de Oz.  Ele oferece uma carona em seu balão de ar quente à Dorothy para levá-la de volta ao Kansas, mas Toto escapa e ela perde a carona, mas Glinda pede que ela bata os sapatos rubi e diga: "Não há lugar melhor que o lar" e após se despedir de todos e fazer o que Glinda disse, ela reaparece em sua cama na casa no Kansas, sendo cuidada pela sua tia, então o filme retorna à cor sépia. Dorothy recohece o Espantalho, o Homem de Lata e o Leão nos empregados da fazenda, se desculpa com a tia e diz que a ama e também seu tio, descobre que sua viagem à Oz foi um delírio da pancada que levou da janela durante a passagem do tornado, então passa a viver feliz com seu cão e se sentindo amada por todos, um ótimo final feliz. 

 Toto e Dorothy

Vemos um grande destaque de atuação para o cãozinho Toto que surpreende para a época, muito bem adestrado. Todas as personagens parecem ser personagens planas, do ponto de vista literário, por serem constantes, com uma única ideia e qualidade, não entregarem além do esperado, com exceção do Leão que atua como um verdadeiro comediante, diferenciando-se do Espantalho e do Homem de Lata, até mesmo Dorothy passa ser uma personagem plana, embora haja um certo crescimento ao final da história. Mesmo sendo personagens planas, as atuações reunidas entregam um ótimo resultado somado às diversas passagens musicais com cada um expondo seus dotes vocais e performáticos individualmente, sendo a performance de Judy Garland com "Somewhere Over the Rainbow" o grande espetáculo musical do filme. O tom caricato das personagens são o que os destacam e seu poder de atuação. O filme por ter sido gravado em estúdio, possui excelentes tomadas de câmera que valorizaram as ações como um todo e os cenários foram construídos de maneira impecável, com uma extrema qualidade, tudo muito sincronizado, ensaiado e a entrega de todos faz com que este filme permaneça como uma das pérolas da sétima arte e mantenha o nome de Victor Fleming no hall dos grandes diretores. Nota-se, acima de tudo, que a performance dos atores são bem teatrais, como se encenadas no palco.

 

Diante da porta da Cidade Esmeralda

Mas como toda grande obra, ela possui seu lado de obscuridade, coincidentemente, ele se deu nos bastidores, por trás das câmeras, o lado negro da lua. Falamos aqui desde acidentes de com os atores por explosões pirotécnicas, intoxicação por maquiagem e assédio à atriz Judy Garland por parte dos anões que fizeram os Munchkins e as exigências absurda de Louis B. Mayer, sócio fundador da MGM, sobre ela para que perdesse peso e parecesse mais jovem do que já era, com 16 anos na época. Sugiro que assistam este documentário curto, de aproximadamente 21 minutos, preparado pela Brasil Paralelo, que explica melhor esses fatos obscuros e que ficaram longe do grande público por um bom tempo. Muitos dos atores tiveram graves problemas de saúde com a toxicidade da maquiagem, com a neve feita de asbestos (hoje fora do mercado por ser comprovadamente cancerígeno, era material de telhas de amianto), e as altas temperaturas da iluminação do estúdio, chegando a 38ºC. Tudo conspirava contra a saúde dos atores. A fantasia do Homem de Lata, uma das mais desconfortáveis, levou o primeiro ator  Buddy Ebsen a ser substituído após se intoxicar com a tinta prateada que tampou seus poros, envenenando-o a ponto de não poder retornar. Enfim, muitas coisas ruins aconteceram, inclusive atribui-se o problema de Garland com as drogas pelo seu uso prolongado durante as gravações, para emagrecê-la, para acelerá-la e ter uma performance mais energética, a ter uma dieta de cigarros para manter o peso, enfim, é de se entender tal atribuição. 

  • Assistam o vídeo na íntegra em: https://www.youtube.com/watch?v=5nomx4M0xmY 

Cabe aqui uma observação pessoal, como tradutor: acho errado usar mágico ao invés de mago, pois, na minha opinião deveria ser O Mago (ou o feiticeiro) de Oz, tradução direta de Wizard. Se fosse "mágico", seria The Magician of Oz. Mago usa capuz ou chapéu pontudo (como bruxas ou magos como Merlin e Gandalf); Mágico usa cartola, geralmente, e pratica ilusionismo, não magia. Wizard ou Sorcerer.

  • Wizard: um homem que possui poderes mágicos, especialmente em lendas e contos de fadas;
  • Sorcerer: uma pessoa que afirma ou acredita ter poderes mágicos; um feiticeiro;
  • Magician: uma pessoa com poderes mágicos; uma pessoa que realiza truques de mágica para entretenimento; uma pessoa com habilidade excepcional em uma área específica.

Assisti pela primeira vez este filme, provavelmente, quando eu tinha por volta de 7 ou 8 anos de idade, mas não me lembrava de muitas coisas, mas tive a visão de um espectador da idade certa para assistir, ou era o que eu pensava, mas ao reassistir agora, noto que não é um filme tão simples e tendo noção das influências e de toda a parafernália hollywoodiana usada para dar vida, digo, uma vida merecida, digna da grandiosidade que ela produz no imaginário infantil, noto que muito se sacrificou e parte do encanto se perdeu, mas jamais deixará de ser um marco no uso da tecnologia das cores que ainda se desenvolvia, o technicolor, com suas performances teatrais, bem arraigadas à presença de palco, um filme que talvez não era para ter sido trazido à luz devido aos vários acidentes, ainda vai encantar a quem assistir, mesmo no mundo o qual estamos, onde existem efeitos especiais infinitamente mais realistas e superiores, diria que O Mágico de Oz é a união máxima das técnicas cinematográficas aliada às performances teatrais. O próximo grande marco cinematográfico talvez aconteceria 30 anos mais tarde em Guerra nas Estrelas. Recomendo que assistam para que todo o sacrifício dos atores e da produção não seja em vão, aqui neste filmes se fez arte em seu conceito mais raiz: o de ser uma expressão.





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