Teoria nº 3: ROMANCE POLICIAL

 

 

 
Quem aqui gosta de um ROMANCE POLICIAL?
 
Sei que existem muitos fans deste gênero literário, eu mesmo sou um deles e digo que nasceu com as aventuras do detetive, ou melhor, consultor, Sherlock Holmes e seu ajudante, John Watson, popularizado pelo escritor inglês da Era Vitoriana, Sir Arthur Conan Doyle, no entanto, nem um pouco original da parte de Sir Doyle, pois ele fez sucesso com uma fórmula aprimorada por ninguém menos do que Edgar Allan Poe e seu detetive Auguste Dupin e seu ajudante que narra as histórias. Poe apenas escreveu 3 contos, muito famosos: "Os Assassinatos da Rua Morgue"; “O mistério de Marie Roget” e "A Carta Roubada". Com esses três contos a fórmula do sucesso abriu as portas para escritores ingleses como Sir Doyle, Agatha Christie e o belga Georges Simenon, pra não entrar em uma longa lista. Abaixo, utilizarei o estudioso literário búlgaro, Tzvetan Todorov, e partes sua obra "As Estruturas Narrativas" para explorar e explicar esse gênero literário ainda muito apreciado, sendo o romance policial um subgênero do romance, Vamos deixar claro aqui que nesta postagem a palavra "romance" não se trata de uma história de amor e sim do gênero literário.
 
"Poder-se-ia dizer que todo grande livro estabelece a existência de dois gêneros, a realidade de duas normas: a do gênero que ele transgride, que dominava a literatura precedente; a do gênero que ele cria. Existe, entretanto, um domínio feliz onde essa contradiçãodialética entre a obra e seu gênero não existe: o da literatura de massa."
 
O que entendemos por literatura de massa? Podemos dizer que ela compreende uma ampla variedade de gêneros e estilos literários, sendo alguns bem conhecidos, como os romances de banca, os livros de autoajuda, os thrillers policiais, os romances eróticos e as histórias de ficção científica, muito menosprezados e massacrados pelos apreciadores da alta literatura e pelos críticos.
 
"O romance policial por excelência não é aquele que transgride as regras do gênero, mas o que a elas se adapta: "No Orchids for Miss Blandish" (de James Hadley Chase) é uma encarnação do gênero, não um ultrapassamento. Se os gêneros da literatura popular tivessem sido bem descritos, não caberia mais falar de suas obras-primas: é a mesma coisa; o melhor romance será aquele do qual não se tem nada a dizer".
Espécies de Romance Policial:
 
1) ROMANCE POLICIAL CLÁSSICO ou “ROMANCE DE ENIGMA” - Teve seu auge entre as duas guerras. Encontramos nele uma dualidade que nos guiar para descrevê-lo. Esse tipo de romance policial não contém uma, mas duas histórias: a história do crime e a história do inquérito. Em sua forma mais pura, essas duas histórias não têm nenhum ponto comum, sendo que na primeira, examina-se indício após indício, pista após pista. Podem-se ainda caracterizar essas duas histórias dizendo que a primeira, a do crime, conta “o que se passou efetivamente”, enquanto a segunda, a do inquérito, explica “como o leitor (ou o narrador) tomou conhecimento dela”. Ex: "Murder on the Orient Express" (Agatha Christie), por exemplo, apresenta doze personagens suspeitas: o livro consiste em doze, e de novo doze interrogatórios, prólogo e epílogo (isto é, descoberta do crime e descoberta do culpado);
 
2) SÉRIE NOIRE ou ROMANCE NEGRO: Criado nos Estados Unidos pouco antes e sobretudo depois da segunda guerra, mas publicado na França na “série noire” e também podemos chamá-lo de romance negro, embora esse termo tenha também outra significação. (...) Não há história a adivinhar; não há mistério, no sentido em que ele estava presente no romance de enigma. Mas o interesse do leitor não diminui por isso: nota-se aqui que existem duas formas de interesse completamente diferentes. A primeira pode ser chamada de curiosidade; sua caminhada vai do efeito à causa; a partir de certo efeito (um cadáver e certos indícios) é preciso encontrar a causa (o culpado e o que o levou ao crime). A
segunda forma é o suspense e aqui se vai da causa ao efeito: mostram-nos primeiramente as causas, os dados iniciais(gangsters que preparam um golpe) e nosso interesse é sustentado pela espera do que vai acontecer, isto é, dos efeitos (cadáveres, crimes, dificuldades). Esse tipo de interesse era inconcebível no romance de enigma, pois suas personagens principais (o detetive e seu amigo, o narrador) eram, por definição, imunes: nada podia acontecer-lhes. A situação se inverte no romance negro: tudo é possível, e o detetive arrisca sua saúde, senão sua vida. O romance negro moderno constituiu-se não em torno de um processo de apresentação, mas em torno do meio representado, em torno de personagens e costumes particulares; por outras palavras, sua característica constitutiva são seus temas, é em torno dessas constantes que se constitui o romance negro: a violência, o crime geralmente sórdido, a amoralidade das personagens;
 
3) ROMANCE DE SUSPENSE: Do romance de enigma, ele conserva o mistério e as duas histórias, a do passado e a do presente; mas recusa-se a reduzir a segunda a uma simples detecção da verdade.
Como no romance negro, é essa segunda história que toma aqui o lugar central. O leitor está interessado não só no que aconteceu, mas também no que acontecerá mais tarde, interroga-se tanto sobre o futuro quanto sobre o passado. Os dois tipos de interesse se acham pois aqui reunidos: existe a curiosidade de saber como se explicam os acontecimentos já passados; e há também o suspense: que vai acontecer às personagens principais? Essas personagens gozavam de imunidade, estamos lembrados, no romance de enigma; aqui elas arriscam constantemente a vida. O mistério tem uma função diferente daquela que tinha no romance de enigma: é antes um ponto de partida, e o interesse principal vem da segunda história, a que se desenrola no presente.
 
Conservei as explicações de Todorov para não me distanciar muito, mas ainda existem romances policiais que mesclam os três subgêneros, sem contar nas narrativas de crimes reais atuais, bastante procuradas e tratadas como não-ficcção, com uma linguagem mais jornalística, como fez Truman Capote em sua obra "À Sangue Frio" (In Cold Blood), chamado de New Journalism e que influenciou ninguém menos que George Orwell. Essa foi apenas uma pincelada para quem nunca foi introduzido a esses subgêneros so submundo de uma maneira mais teórica e formal.
 
Qual seu romance policial favorito?
 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

RESENHA nº 1 - Curta-metragem CUERDAS, de Pedro Solís García

ENTREVISTA nº 3 - LUCIANA FÁTIMA, pesquisadora do escritor Álvares de Azevedo.

ENTREVISTA nº 1 - MARGARET JULL COSTA, tradutora literária.