Personagem nº 1: O CORINGA

 



Seguindo o tema da LOUCURA, vamos com O CORINGA / THE JOKER / EL GUASÓN, que é uma personagem criada por Bill Finger, Bob Kane e Jerry Robinson, com sua primeira aparição na edição de estréia da revista em quadrinhos do BATMAN, em 25 de abril de 1940, na então Era de Ouro dos quadrinhos, hoje, um senhor de 84 anos que despretensiosamente (?) surgiu para atazanar a vida do Homem-Morcego já na estreia, digo que isso é entrar com o pé na porta, de forma triunfal, ou como ouvi uma vez: dando uma voadora no lustre!

Poucos sabem, mas o esboço conceitual do Coringa feito por Jerry Robinson em 1940 se baseou no ator Conrad Veidt que interpretou a personagem Gwynplaine no filme The Man Who Laughs/O Homem Que Ri (1928), baseado na obra homônima de Victor Hugo. O rosto sempre sorridente de Veidt inspirou o design do Coringa.

Sou suspeito, sempre gostei mais dele do que do Batman, rouba a cena em qualquer lugar com sua indumentária: um terno de cor ora roxa, ora púrpura, ora sei lá o que; mais a eterna pele cor de mármore e os lábios em vermelho carmim, cor de sangue, elemento que flui como água em suas modernas histórias. Vemos uma grande evolução desde sua fuga dos quadrinhos para os seriados e posteriormente, para as telas do cinema.

Nos quadrinhos do Homem-Morcego, ele era um gângster que fazia assaltos, o chamado Príncipe Palhaço do Crime. Sem origem conhecida, sem nome sabido, nada, nenhum traço de seu passado era mostrado, diferentemente de seus mais famosos concorrentes, como Edward Nigma (O Charada) e Oswald Cobblepot (O Pinguin), para não mencionar outros. A violência nos quadrinhos foi crescendo como na TV e no cinema, em progressão geométrica, não aritmética, acompanhando o zeitgeist de cada década, à sua maneira.

Pontos de ruptura que destaco: O Retorno do Cavaleiro das Trevas, de Frank Miller (1986); com a maior ruptura na Graphic Novel de Alan Moore e Brian Bolland, a famigerada The Killing Joke/A Piada Mortal (1988) com a tortura do Comissário Gordon e com a chocante cena que ele aleija Bárbara Gordon, a Batgirl, depois a despe e a exibe nua a seu pai já aleijada e ensanguentada, muito debatido se isso foi certo para os quadrinhos; mas o rastro de sangue segue com o assassinato do segundo Robin, Jason Todd, em 1988–89 no arco "A Death in the Family/Uma Morte em Família"; depois a coisa só piora e o sangue só jorra.

Na TV, a personagem ganhou notoriedade no seriado da década de 1960 onde foi brilhantemente interpretado por Cesar Romero, que se maquiava sem tirar o bigode! Esse é o Coringa clássico, piadista, sem ser psicótico, mas um gânster.

No cinema que a coisa muda, e muito! Em 1989, Tim Burton lança seu filme do Homem-Morcego estrelando Michael Keaton e ninguém menos que Jack Nicholson como Batman e o Coringa, respectivamente, claro, este rouba a cena. Nicholson, um doido varrido de carteirinha, já conhecido por ser Jack Torrance em O Iluminado/The Shinning, trouxe a violência dos quadrinhos para a tela, marcando a transição das interpretações de Cesar Romero para Heath Ledger, sendo este Coringa de Nicholson, um mafioso com requintes de crueldade e obsessão pelo morcegão, em uma Gotham noire, quase que saída dos filmes expressionistas alemães da década de 1920, sombria e esfumaçada. Aqui está a base para os próximos intérpretes. Nesta trama ele tem um nome: Jack Napier e sua origem foi baseada na Graphic Novel, A Piada Mortal, onde ele cai no tanque de produtos químicos que lhe valeram a loucura característica e o aumento de inteligência.

Em 2008, com The Dark Knight/O Cavaleiro das Trevas, de Christopher Nolan, Heath Ledger desconstrói a personagem, revelando-se como a "alma gêmea" de Batman, já de carona em Nicholson, mas dando um show de interpretação com piadas de humor negro e um requintado teor psicótico, digno de estudo. O objetivo do Coringa de Ledger era destruir Batman e Harvey Dent, ícones da justiça em Gotham, ele foi aqui um iconoclasta e atingiu seu objetivo. A sua interpretação foi tão séria que levou o ator à morte, valendo-lhe uma premiação póstuma. Nada se sabe sobre a origem da personagem, sem nome, sem rosto, sem número, mas é a personagem mais coerente da trama, sabe o que quer e como fazer para atingir o objetivo.

2020 foi o ano de coroação com Joaquin Phoenix como o grande intérprete sob a direção de Todd Phillips. Arthur Fleck, como é chamado, sofre os mais diversos abusos pela mãe e o padrasto quando criança, e sem saber quem é seu verdadeiro pai, ele é produto do meio em que viveu e vive. Sobrevive como palhaço profissional e sonha em ser comediante. De uma maneira torta, chega ao estrelato de um famoso programa e mata o zombador apresentado, Murray, ao vivo, desencadeando uma onda de destruição pela cidade por um já incitado movimento social acidentalmente criado por ele ao matar três jovens trabalhadores da Bolsa de Gotham. Aqui nota-se uma inspiração de V de Vingança, de Alan Moore, ao usar as máscaras como protesto, como foi feito com a máscara de Guy Fawkes por V. Phoenix parece juntar o trabalho de Romero, Nicholson e Ledger em uma só personagem, com pitadas de arte, performance teatral e mambembe, com movimentos à David Bowie. Aqui ele foi magistral e espero que mantenha na sequência que sai este ano.

Entendemos que o Batman e o Coringa são dois lados da mesma moeda, almas gêmeas, o Yin-Yang, o bem e o mal, não vivem um sem o outro. Uma salva de palmas para seus criadores e para os que vem adaptando de década a década!

Qual o seu Coringa preferido?

PS: nem comentei da versão de Jared Leto, pois é sem comentários.


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