T.E. (THOMAS EDWARD) LAWRENCE, ou LAWRENCE DA ARÁBIA

T. E (THOMAS EDWARD) LAWRENCE, ou como é mais conhecido, LAWRENCE DA ARÁBIA (16 de agosto de 1888 – 19 de maio de 1935), foi um arqueólogo britânico, oficial do exército, diplomata e escritor que se tornou conhecido por seu papel na Revolta Árabe (1916–1918) e na Campanha do Sinai e da Palestina (1915–1918) contra o Império Otomano durante a Primeira Guerra Mundial. Arqueólogo de formação em História no Jesus College, Oxford, onde concluiu sua tese sobre construções militares medievais na Inglaterra, País de Gales, França, Síria e Norte da Palestina (Hoje Israel). Após concluir sua graduação em 1910, ele escreveu o livro Crusader Castles (Castelos dos Cruzados), apenas publicado postumamente em 10 de maio de 1936, limitada a 1.000 edições, aproximadamente um ano após sua morte, o que, de fato, é a sua tese na íntegra e pode ser encontrada disponível na internet, em inglês, cuja abrangência dos estudos apresentados no livro cobre as três primeiras Cruzadas (1095-1193), definindo o escopo de sua tese como "A Influência das Cruzadas na arquitetura militar do final do século XX", visitando os principais castelos destes países, sendo que o trecho europeu foi percorrido em sua motocicleta de três marchas construída por um ainda anônimo Mr. Morris que ganharia fama mais adiante. A obra foi datilografada e depois revisada a lápis, em um processo bem artesanal, porém de suma importância que incluía também fotos dos castelos que ele mesmo as tirou. Há um prefácio explicativo muito interessante escrito por seu irmão caçula, A. W. (Arnold Walter) Lawrence, uma autoridade britânica em escultura e arquitetura clássica, foi Professor Laureado de Arqueologia Clássica na Universidade de Cambridge na década de 1940 e, no início da década de 1950, em Accra fundou o que mais tarde se tornou o Conselho de Museus e Monumentos de Gana, bem como o Museu Nacional de Gana e executor literário de seu mais famoso irmão. Uma família de mentes brilhantes, certamente.

                                                                                               T. E (THOMAS EDWARD) LAWRENCE

 

O partido do Emir Faisal em Versalhes, durante a Conferência de Paz de Paris de 1919; da esquerda para a direita: Rustum Haidar, Nuri al-Said, Príncipe Faisal (frente), Capitão Pisani (atrás), Lawrence, servo de Faisal (nome desconhecido), Capitão Hassan Khadri
 

Mas antes de publicar sua tese, seu primeiro livro publicado foi The Wilderness of Zin (O Deserto de Zin), a respeito da região desértica localizada no sul de Israel, na fronteira com o Egito, uma área geográfica mencionada na Bíblia como estando entre Elim e o Monte Sinai. Em 1913, Lord Kitchener solicitou os serviços de um arqueólogo do Museu Britânico para realizar um levantamento ao sul da Palestina, resultando que CHARLES LEONARD WOOLEY (17 de april de 1880 – 20 de fevereiro de 1960) - depois Sir Charles Leonard Woolley, foi um arqueólogo britânico mais conhecido por suas escavações em Ur, na Mesopotâmia, e reconhecido como um dos primeiros arqueólogos "modernos" que escavou de forma metódica, mantendo registros cuidadosos e usando-os para reconstruir a vida e a história antigas. Woolley foi nomeado cavaleiro em 1935 por suas contribuições à disciplina de arqueologia e foi casado com a arqueóloga britânica Katharine Woolley -, e T. E. LAWRENCE foram contratados para registrar vestígios arqueológicos junto com topógrafos militares na região de Gaza, através do deserto de Negev até o sul da Jordânia. Em apenas seis semanas, durante janeiro e fevereiro de 1914, os dois arqueólogos percorreram grandes extensões do deserto estudando monumentos de numerosos períodos, do pré-histórico ao islâmico. No final de 1914, o trabalho foi redigido e pronto para publicação pelo Fundo de Exploração do Palestino em 1915.

                                     Leonard Woolley (à esquerda) e Lawrence na escavação de Carchemish, c.1912.
 

Apesar de todas estas contribuições para a arqueologia europeia, asiática e mundial, seu trabalho mais conhecido foi apresentado em seus livros: Seven Pillars of Wisdom (Os Sete Pilares da Sabedoria), narrando sua trajetória de contribuição como braço direito do exército britânico na Revolta Árabe (1914-1918), que ganhou uma versão resumida chamada Revolt in the Desert (Revolta no Deserto) e depois The Mint (A Matriz), um relato do serviço de Lawrence na Royal Air Force (RAF) como um aviador comum, sob o nome falso, 352087 Ross, detalhando seu sofrido treinamento e suas decepções com a instituição e o governo de seu país após os eventos narrados no livro anterior, com um Lawrence despojado das crenças e das vestes que o tornaram famoso, uma obra publicada também postumamente, em 1955, sofrendo cortes pela censura contra as críticas a respeito da instituição RAF. 

                         Mapa apresentado por Lawrence ao Comitê Oriental do Gabinete de Guerra em novembro de 1918.

Destas duas obras, as comentarei em detalhes em postagens separadas devido aos seus valores literários, obras que se enquadram no gênero não-ficção. T. E. Lawrence é hoje a peça-chave a quem quer compreender a formação moderna do Oriente-Médio, no entanto, é uma figura pouco conhecida mundialmente e seus méritos tornam-se obscuros, vítima talvez de suas ferrenhas críticas à traição sofrida pelo acordo Sykes_Picot entre França e Inglaterra que redesenhou o mapa do Oriente-Médio pós-Revolta Árabe desconsiderando os estudos de Lawrence e Faisal, um dos filhos de Sharif Hussein (junto com Ali e Abdullah), sendo que Faisal apresentou os quesitos para liderar a Revolta Árabe. Lawrence, além de um brilhante arqueólogo e historiador, possuía diversas outras qualidades que se observam não apenas em suas obras mais famosas, mas também em outras ainda grandes desconhecidas, pois ele era um falante competente de francês e árabe, e leitor de latim e grego antigo. Lawrence publicou também duas traduções: A Odisséia de Homero e O Gigante da Floresta, esta última uma obra de ficção francesa há muito esquecida. Ele recebeu uma taxa fixa pela segunda tradução e negociou uma taxa generosa mais royalties pela primeira.

Com uma vida e trabalho tão interessantes,  em 13 de maio de 1935, Lawrence foi mortalmente ferido em um acidente em sua motocicleta Brough Superior SS100 em Dorset, perto de sua casa de campo, Clouds Hill, na região de Wareham, apenas dois meses após deixar o serviço militar. Uma depressão na estrada obstruía sua visão de dois meninos em suas bicicletas; ele desviou para evitá-los, perdeu o controle e foi jogado por cima do guidão. Ele morreu seis dias depois, em 19 de maio de 1935, aos 46 anos. Esta cena abre o épico filme LAWRENCE DA ARÁBIA, dirigido pelo renomado diretor inglês David Lean, lançado em 1962, com um elenco de primeira linha, como Peter O'Toole interpretando Lawrence, Alec Guinness como Faisal, além de Omar Shariff, Anthony Quinn e Jack Hawkins, um estrondoso sucesso de bilheteria.


Caio Zini

 

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