Biografia do autor e tradução nº 1: TRÊS POEMAS DE J.R.R.TOLKIEN

 

 

QUEM FOI TOLKIEN?

John Ronald Reuel Tolkien (1892–1973), aka, J. R. R. Tolkien, filólogo formado na Universidade de Oxford, obtendo um diploma de primeira classe em junho de 1915, foi duas vezes professor de anglo-saxão (inglês antigo), além de ser um grande estudioso da língua inglesa, trabalhar em várias tentativas poéticas e em suas línguas inventadas, em especial, uma que ele passou a chamar de "Qenya", fortemente influenciada pelo finlandês. Ele ficou conhecido por suas duas obras que foram adaptadas para cinema pelo diretor Peter Jackson: O Hobbit (1937) e O Senhor dos Anéis (1954–1955), dividida em três volumes. Nessas obras, os leitores têm contato com o fictício mundo chamado Terra-média, cuja população envolve outras raças além da humana, como Elfos, Anões, Trolls, Orcs (ou Goblins) e os protagonistas: os Hobbits. Sua literatura injustamente é condenada pelos grandes cérebros da literatura inglesa (ou pelo establishment literário inglês), embora seja adorada pelos leitores mundo a fora.

Ele e sua esposa Edith se casaram em Warwick em 22 de março de 1916. Participou ativamente da Primeira Guerra Mundial, enviado para o serviço ativo na Frente Ocidental para a ofensiva de Somme, mas após quatro meses dentro e fora das trincheiras, tombou perante a “febre das trincheiras”, uma infecção semelhante ao tifo, habitual nas condições insalubres, sendo enviado de volta à Inglaterra no início de novembro, ficando o mês seguinte internado no hospital em Birmingham e se recuperado suficientemente até o Natal, essa foi sua experiência como combatente.

Como um ato piedoso à memória de seus amigos caídos em guerra e estimulado pela reação contra suas experiências de guerra, Tolkien havia começado a dar forma às suas histórias, desenvolvendo o Livro dos Contos Perdidos (publicado postumamente), onde a maioria das principais histórias do Silmarillion aparecem de forma inicial e as primeiras versões registradas das guerras contra Morgoth, o cerco e queda de Gondolin e Nargothrond, e os contos de Túrin e de Beren e Lúthien.

Ao longo de 1917 e 1918, sua doença continuou recorrente, mas quando ele estava estacionado na área de Hull que ele e Edith foram passear na floresta nas proximidades de Roos, sua esposa Edith dançou para ele, dança esta que lhe serviu de inspiração para a escrita do conto de Beren e Lúthien, tema recorrente no seu “Legendarium”. Tolkien pensou em Edith como “Lúthien” e ele mesmo como “Beren”. Seu primeiro filho, John Francis Reuel (mais tarde Padre John Tolkien) já havia nascido em 16 de novembro de 1917. Na assinatura do Armistício foi assinado em 11 de novembro de 1918, Tolkien já estava tentando obter emprego acadêmico e, no exato momento em que foi liberado pelos médicos, acabava de ser nomeado Lexicógrafo Assistente do Novo Dicionário de Inglês (o “Dicionário de Inglês Oxford”), vejam só que fato pouco conhecido mesmo por seus fãs.

Vamos falar um pouco das outras obras de Tolkien além de O Senhor dos Anéis. Entre 1925 e sua partida, Tolkien escreveu e publicou uma série de outros artigos, dentre eles, uma série de ensaios acadêmicos, muitos deles reimpressos em Os Monstros e os Críticos e Outros Ensaios; uma obra relacionada à Terra Média, As Aventuras de Tom Bombadil; edições e traduções de obras do inglês médio, como Ancrene Wisse, Sir Gawain, Sir Orfeo e The Pearl, e algumas histórias independentes do Legendarium, como o Imram, The Homecoming of Beorhtnoth Beorhthelm's Son, The Lay of Aotrou e Itroun - e , especialmente, Farmer Giles of Ham, Leaf by Niggle e Smith of Wootton Major

Em sua vida pessoal, ele estava fortemente adaptado ao mundo predominantemente masculino do ensino, da pesquisa, da troca camarada de ideias e publicações ocasionais, possuindo um escasso registro de publicações acadêmicas algo reprovável atualmente devido a avaliação quantitativa de pessoal. Tolkien deu sequência ao desenvolvimento de sua mitologia e suas línguas. Por ele contar histórias aos seus filhos, algumas publicadas postumamente como Mr. Bliss, Roverandom, etc. em seu caderno de provas, ele havia deixado uma página em branco de um caderno de respostas cujo candidato era perfeito, nesta página estava escrito “Em um buraco no chão vivia um hobbit“. Aí ele precisava descobrir do que se tratava um Hobbit, "qual tipo de buraco ele vivia", "por que vivia em um buraco", entre outras questões do gênero. Em 1936, um texto datilografado incompleto chegou às mãos de Susan Dagnall, funcionária da editora George Allen and Unwin (fundida em 1990 com a Harper Collins) que pediu a Tolkien a história completa e terminada para Stanley Unwin, presidente da empresa. Experimentou-o com seu filho de 10 anos, Rayner, que escreveu um relatório de aprovação, e foi publicado como O Hobbit em 1937. Um sucesso imediato, não mais saiu das listas de leituras recomendadas para crianças, então devido ao estrondoso sucesso, o presidente perguntou se havia mais algum material semelhante e disponível para publicação. Eis que nasce a figura do hobbit como a conhecemos. A situação mudou para algo muito mais do que uma história infantil, levando para 16 anos para completar a história altamente complexa de O Senhor dos Anéis, então Rayner Unwin, o filho do presidente, responsável por trazer à luz O Hobbit, esteve profundamente envolvido nas fases posteriores da trilogia dos anéis, lidando de forma exemplar com um escritor temperamental e a um certo momento, chegou a oferecer toda a obra a uma editora concorrente que a recusou devido a sua complexidade e extensão.

A famosa trilogia tornou-se uma espécie de culto, houve um momento absurdamente incrível quando O Senhor dos Anéis foi lançado em uma versão pirata em brochura, em 1965, pondo o livro na categoria de compra por impulso, além da publicidade gerada pela disputa de direitos autorais que alertou milhões de leitores americanos para a existência de algo fora da sua experiência predecessora, mas que parecia falar da sua condição. Em 1968, O Senhor dos Anéis quase se tornou a Bíblia da “Sociedade Alternativa”. Tal fato criou sentimentos contraditórios em Tolkien que ficou extremamente lisonjeado e surpreendentemente tornou-se bastante rico, para seu próprio susto, em contrapartida, concebendo uma ideia de uma grande viagem que era ler O Senhor dos Anéis e ingerir LSD, simultaneamente, uma trip recorrente e famosa, como reportaram Arthur C. Clarke e Stanley Kubrick suas próprias experiências semelhantes com a aclamada obra fílmica 2001: Uma Odisséia no Espaço. Os fãs começaram a criar problemas crescentes e de naturezas das mais absurdas, como aqueles, especialmente da Califórnia, que telefonaram às 19h. (horário deles - 3h da manhã de Tolkien), para exigir saber se Frodo teve sucesso ou fracassou na busca do anel, ou qual era o pretérito da língua fictícia Quenyan lanta, ou se os Balrogs tinham ou não asas, levando o escritor a mudar de endereço, número de telefone e, consequentemente, de cidade, ele e a esposa se mudaram para Bournemouth, um belo resort, embora pouco inspirador na Costa Sul (o “Sandbourne” de Hardy), conhecido pelo número de seus residentes idosos e abonados.

Na década de 1960, Tolkien passa a ser adotado por adeptos da nascente “contracultura”, principalmente por sua preocupação com as questões ambientais. Em 1997, ele ficou em primeiro lugar em três pesquisas britânicas, organizadas respectivamente pelo Channel 4/Waterstone’s, pela Folio Society e pela SFX, a principal revista de mídia de ficção científica do Reino Unido, entre leitores exigentes convidados a votar no melhor livro do século XX. Observe também que seu nome está escrito Tolkien (não se escreve “Tolkein”, anote-se).

Em 29 de novembro de 1971, Edith morreu e Ronald logo retornou a Oxford. Ronald morreu em 2 de setembro de 1973. Ele e Edith estão enterrados juntos em uma única cova na seção católica do cemitério de Wolvercote, nos subúrbios ao norte de Oxford. (O túmulo está bem sinalizado desde a entrada.) A legenda na lápide diz:
 

Edith Mary Tolkien, Lúthien, 1889–1971

John Ronald Reuel Tolkien, Beren, 1892–1973 

Em 1977, seu filho Christopher Tolkien publica postumamente o aguardadíssimo Silmarillion. Em 1980, Christopher passa a publicar uma seleção de escritos incompletos de seu pai de seus últimos anos de vida, sob o título de Contos Inacabados de Númenor e da Terra Média. Na introdução desta obra, Christopher Tolkien refere-se ao Livro dos Contos Perdidos, “em si uma obra muito substancial, do maior interesse para quem se preocupa com as origens da Terra-média, mas que exige ser apresentada de uma forma longa e complexa, um estudo, se for o caso” (Contos Inacabados, p. 6, parágrafo 1).

As vendas de O Silmarillion e as de Contos Inacabados mostraram que tinha mercado até para este material relativamente obscuro e decidiram arriscar e embarcar neste “estudo demorado e complexo”, provando ser um empreendimento de sucesso. Os editores de Tolkien mudaram de mãos e nomes várias vezes entre o início do empreendimento entre 1983 e 1997, porém o teste do tempo mostrou longevidade à sua obra e outras publicações póstumas surgiram, como Roverandom (1998), Os Filhos de Húrin (2007), Beowulf (2014), Beren e Lúthien (2017) e, mais recentemente, A Queda de Gondolin (2018).

Fonte: J.R.R. Tolkien: A Biographical Sketch, By David Doughan MBE, available at https://www.tolkiensociety.org/discover/biography/

 

POR QUE TOLKIEN?

No início dos meus 20 anos, meu gosto por hard rock, rock progressivo e heavy metal me levaram a querer saber mais sobre as bandas e, eventualmente, encontrei inúmeras referências das influências sofridas por bandas como Led Zeppelin, Black Sabbath, Blind Guardian, Marillion, além de outras, que se embasaram na famosa trilogia de Tolkien para escrever suas letras e mesmo nomear as bandas, acredito que não haja outra obra tão influente no mundo do rock e musical em geral, portanto quando houve o lançamento de A Sociedade do Anel, em 2001, fui correndo aos cinemas, mas não resisti e acabei comprando o livro As Duas Torres e depois, obviamente, O Retorno do Rei, parando para ler A Sociedade do Anel somente por último, e na sequência, O Hobbit. Li tudo errado, fora de ordem e eu era péssimo leitor na época, dormia mais do que lia, mas essa obra foi fundamental para me apaixonar por narrativas de peso e classe, como Tolkien a faz com maestria e traços únicos, ele foi o primeiro escritor a me impressionar após Edgar Allan Poe, então aqui traduzo a razão de homenageá-lo com poemas não traduzidos à língua portuguesa, ao menos não encontrei referências.

Espero que vocês os apreciem tanto quanto eu apreciei fazer a tradução. Gostaria que os leitores tivessem contato com Tolkien poeta e não o bardo da Terra-média.


TODAS AS FLORESTAS DEVEM PERECER, por J.R.R. Tolkien.
 
Ó Andarilhos na terra sombria, não vos desesperai!
 
Por mais trevosas que possam ser, todas as florestas devem desaparecer, finalmente, e ver o sol aberto acima correr: o sol poente, o sol nascente, o dia findo, ou nascendo.
 
A leste ou a oeste, todas as florestas devem perecer.
 
Tradução: Caio A. Zini



 
 
 
 CAT, by J. R. R. TOLKIEN

The fat cat on the mat may seem to dream of nice mice that suffice for him, or cream;

but he free, maybe, walks in thought unbowed, proud, where loud roared and fought his kin, lean and slim, or deep in den in the East feasted on beasts and tender men.

The giant lion with iron claw in paw, and huge ruthless tooth in gory jaw;

the pard dark-starred, fleet upon feet, that oft soft from aloft leaps upon his meat where woods loom in gloom — far now they be, fierce and free, and tamed is he;

but fat cat on the mat kept as a pet he does not forget.

 
GATO, por J. R. R. TOLKIEN
 
O gorducho gato no capacho pode aparentar sonhar com belos ratos que o temem, ou creme;
 
Mas livre, ele, quiçá, insubmisso e orgulhoso, em pensamento anda, onde alto bradou e lutou seus parentes macilentos e esbeltos, ou no fundo da toca, no Leste, festejou com feras e homens.
 
O gigante leão com garras de ferro nas patas, enormes e implacáveis presas na sangrenta mandíbula;
 
O pardo estrelado e escuro, rápido sobre os pés, que, frequentemente, suave do alto, dá um salto sobre sua carne onde as florestas assomam na escuridão — longe agora elas estão, feroz e livre, e domesticado ele vive;
 
Mas o gorducho gato no capacho, mantido como um animal domesticado, não se faz de rogado.
 
Tradução: Caio A. Zini
 
Fonte: https://allpoetry.com/poem/8499991-Cat-by-J-R-R-Tolkien




SEASONS, by J. R. R. TOLKIEN

In the willow-meads of Tasarinan I walked in the Spring.
Ah! The sight and smell of the Spring in Nantasarion!

And I said that was good.

I wandered in Summer in the elm-woods of Ossiriand.
Ah! The light and the music in the Summer by the Seven Rivers of Ossir!

And I thought that was best.

To the beeches of Neldoreth I came in the Autumn.
Ah! The gold and red and the sighing of leaves in the Autumn in Taur-na-neldor!

It was more than my desire.

To the pine-trees upon the highland of Dorthonion I climbed in Winter.
Ah! The wind and the whiteness and the black branches of Winter upon Orod-na-Thon!

My voice went up and sang in the sky.
And now all those lands lie under the wave,
And I walk in Ambarona, in Tauremorna, in Aldalome,
In my own land, in the country of Fangorn,
Where the roots are long,
And the years lie thicker than leaves
In Tauremornalome.


ESTAÇÕES, por J. R. R. TOLKIEN
 
Nos prados de salgueiros de Tasarinan, na Primavera caminhei.
Ah! A visão e o odor da Primavera em Nantasarion!
 
E eu disse que isso era bom.
 
Pelos olmos de Ossiriand, no verão vaguei.
Ah! A luz e a música no Verão pelos Sete Rios de Ossir!
 
E eu pensei que era o melhor.
 
Às faias de Neldoreth, no Outono cheguei.
Ah! O dourado e o rubro e o suspirar das folhas no Outono em Taur-na-neldor!
 
Foi além do meu desejo.
 
Aos pinheiros das terras altas de Dorthonion, no inverno escalei.
Ah! O vento, a brancura e os ramos negros do Inverno sobre Orod-na-Thon!
 
Minha voz aos céus subiu e cantou.
 
E agora todas essas terras jazem sob a onda,
E caminho em Ambarona, em Tauremorna, em Aldalome,
Na minha própria terra, no país de Fangorn,
Onde as raízes são longas,
E os anos mais espessos que folhas
Em Tauremornalomé.
 
Tradução: Caio A. Zini
 
Fonte: https://allpoetry.com/poem/8499919-Seasons-by-J-R-R-Tolkien   




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