Resenha nº 10: A POESIA SLAM
A POESIA SLAM, por CAIO ZINI
A poesia, uma obra de arte, acima do conceito literário que estamos habituados a ver descrito em magazines literários ou das bocas de críticos especializados, então o que a poesia slam traz não vem do conceito não acadêmico, pois ela roubou o fogo dos deuses do Olimpo e trouxe às mãos, mentes e corações de pessoas que muito provavelmente não circulariam pelos grandes círculos literários, a poesia slam trouxe voz a quem escreve, mas não publica nas editoras de grande circulação, trata-se de “um movimento poético urbano e contemporâneo, uma verdadeira arte poética. Uma arte que se diz, se canta, floresce no universo sonoro...”, é a palavra vindo às mãos de que realmente as usa, um movimento de reconquista, reconectando-a à oralidade das declamações outrora realizadas com muita paixão por quem as criava, mas além deste poder, ela é investida de um grande senso de improviso e de uma densidade oral digno dos bardos medievais que levavam sua arte oral aos quatros cantos dos reinos medievais, tida como “poesia de carácter urbano e de ‘proximidade’, estava até então à margem dos circuitos culturais convencionais, uma prática de bistrôs, “pequenos lugares”, festivais de poesia ou música improvisada confidencial, para o público iniciado de apaixonados”, dentro do cenário “underground”, um tipo de poesia híbrida, algo como um meio-termo como .
A exibição do filme Slam, do americano Marc Levin (Caméra d'or no Festival de Cannes de 1998), estimulou as primeiras experiências francesas que nasceram no final do século XX, conferindo a ela sua característica de “poesia de carácter urbano e de ‘proximidade’, que antes tinha sua circulação e declamações restritas à margem dos circuitos culturais convencionais, sendo uma prática de bistrôs, de lugares pouco frequentados ou de dimensões pequenas, festivais de poesia ou música improvisada, confidencial, voltados a um público já iniciado de amantes.
O termo “slam” foi criado por Mark Smith, poeta e pedreiro na Chicago da década de 1980 e segundo ele, “a palavra é uma onomatopeia que evoca o bater (de uma porta) literalmente e depois figurativamente (bater a porta na cara), o termo também designa prisão, cadeia, e o slam, ou schelem, ‘grande esmagamento’ em certos jogos de cartas, como bridge ou whist”.
O
movimento ganhou força na França em meados da década de 1990, sendo pioneiros o
Hot et Nada ou o Collectif 129H que declamavam seus poemas nos bares dos arrondissements
(bairros) XVIII e XX de Paris, espalhando-se e se enraizando nos subúrbios e
províncias, onde realmente se estabeleceram e conquistou seu público e
escritores mais fiéis e fortes, sendo uma ascensão contemporânea , sendo parte
de ações sociais e compartilhadas em municípios, centros sociais, escolas,
prisões, correios, hospitais e demais locais inusitados, sendo abraçada de norte
a sul do país, por uma série de poetas, iniciantes ou experientes, interagindo no
palco com o público, uma nova arte foi refinada e vem sendo moldada, assim como
as competições de hip-hop entre rappers e dançarinos de break nas ruas nas
décadas de 80 e 90, a poesia slam ganha força na França e também nos países
francófonos, estando nas mãos de poetas do cotidiano que dão um novo sopro na
poesia e na arte declamatória, mantendo a oralidade vida e de uma forma, marginal,
porém sincera, nas margens, sempre nas margens.
A poesia slam é definida como uma "arte oratória que consiste em declamar textos poéticos de uma forma muito livre" (Petit Robert); ou como "poesia oral e urbana, declamada em local público, em ritmo cantado" (Larousse).
"Slam" na gíria (norte-americana) é um termo polissêmico. Pode significar bater uma porta, bater em um objeto ou criticar virulentamente. Ele ressoa como uma onomatopeia, um soco na mesa para chamar a atenção em um lugar barulhento. Também se refere a uma competição esportiva.
“A poesia slam é um elo entre a escrita e a performance, incentivando os poetas a se concentrarem no que dizem e como dizem”. - Fédération française de Slam poésie.
Uma prática comunitária para alguns, uma performance individual para outros, [...] a poesia slam nivela o chão sob os pés dos poetas. Quer venham da rua ou de salões literários, a poesia slam dá voz a todos. […] Para um público que há muito permanecia desertor, concretizou o encontro com a poesia.
"[…] Seus impulsos anti-establishment e demandas sociais significam que muitas vezes é comparado ao rap sem música, mas na realidade permanece mais afiliado ao caminho emancipado do jazz. Liberta a prática da palavra da preciosidade mundana e da intelectualização da mídia para reintroduzi-la na esfera da política. Poesia, arte, movimento, resistência, um momento de escuta e partilha: as posições são diversas quando se trata de definir o slam, mas todas concordam em reivindicar seu caráter igualitário e democrático". - Ritta Baddoura - Slam, parole piégée – 2017
"A poesia é um clamor, deve ser ouvida como música. Toda poesia destinada a ser lida apenas e encerrada em sua tipografia não está acabada; leva seu sexo apenas com as cordas vocais, assim como o violino toma o seu próprio com o arco que o toca”. - Léo Ferré, préface à Poète... vos papiers !, 1956
“Ao molharmos nossa pena, isto é realmente uma heresia
Se dizer que nós mesmos que a assumimos e que escrevemos a Poesia
Existe, ao que parece, um instante na escrita
Que se esquece a página em branco e se apaga as rasuras
Um verdadeiro estado de espírito, uma espécie de transe
Que aparece misteriosamente e voa em silêncio”. Grand Corps Malade
Traduções: Caio A. Zini, 11/08/2024.
Fontes:
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