Poème: UM VERDADEIRO LETRISTA, por LORD MYKE JAM


 


STÉPHANE FAIDER, mais conhecido pela alcunha de LORD MYKE JAM, é original de Abymes, Guadalupe, nascido no ano de 1977, foi campeão francês de slam de 2016 representando a França no Campeonato Europeu de Slam, na Bélgica, e trabalha como instrutor de esportes.

 

UM VERDADEIRO LETRISTA, por LORD MYKE JAM

Um verdadeiro letrista, colocado numa prateleira de madeira de ébano,
Ao lado do louco, imagine o ar de Molière.
Seus pensamentos silenciosos sussurram
Em uma arcaica concha-rainha
O livro secreto de uma vida amarga.
Avaro de poesia,
Era preciso ficar acordado a noite toda para ouvir o relato cotidiano dessa diarista.
Ela desnudou-se de suas andanças do passado.
Atordoado, roubei-lhe o constante medo de fabulosos combates,
O que eu digo! Roubei-lhe o constante medo de combates romanescos!  
Do corvo e da pomba que ela não se atreveu a me confessar
Pois, desde o início, dizia ela,
Que tinha um bom papel.
Desde então, raros são aqueles que, ao seu redor, a deixam feliz.
No entanto, não é mais perigoso do que qualquer outro.
A parte do obscuro, em sua casa, é toda do lado de fora,
Mas se preciso for, à noite, encontrar um responsável,
Estou escalada! dizia ela.
A coruja ou o gato preto sabem do que digo.

Enrugados e secos como aqueles velhos troncos secos
Que florescem na floresta.
Suas ideias amadurecem diante do passado doloroso
Para se emparedar na esperança de um amanhã feliz.
Duro e seco na aparência, nunca o vi suculento.
No entanto, sua pele rachada enfraqueceu com um negrume duvidoso
Nas lágrimas que ela indubitavelmente verteu.
Eu podia ler em seus olhos,
Cor de sua época controversa,
Chocolate branco, diluído com leite se sente melhor,
Creme com café, café com leite, isso tece as características tão rápido quanto os elos
Mas se quebra tão rápido quanto tranças.  
Estas são as razões ocultas de sua imensa angústia.
Não se pode esconder eternamente que se é mulato

Que os azulejos da lembrança sejam apanhados na desconstrução
Para que a reconstrução se faça no brindar com os tijolos
E que São Briquet reacenda a chama
Para que brote desta parede, para sempre, as poças de uma mãe em crise!

Enrugada e seca como aqueles velhos troncos secos que florescem na floresta,
Ela nasceu em Abymes, Guadalupe,
Ilha da Beleza, sua pele é uma casca,
O corpo da árvore que danificamos, que descascamos,
Arrancado de suas raízes para jogá-lo no abismo.
Suas cicatrizes eram feitas por dentro.
A ferida permanece fechada, mas se fragiliza
A olhos vistos.
No entanto, nada havia sido gravado nele, apenas sussurros que agiam como o vento.
Apenas olhares que dizem muito,
Palavras de rosas espinhosas que servem de machados
Que reaparecem em seus pensamentos, apressadamente, na forma de ideias de um passado negro,
Pendurado no ramo dos senhores.
De palavras espinhosas que a trabalharam no tempo;
O arbusto certo virou uma roseira e ninguém mais conseguia alcançá-la.
Ela viu os verdes e não os maduros
Do outro lado da fronteira, minha avó!
Sob sua armadura, floresce um rosto doce,
Ferido de rugas, de coragem, tão belo quanto o gladíolo!
E sobre sua pele, cubra-a com uma couraça, afim de que sua fonte de amargor possa secar.

Que o vai siga com o vem!  
E que o vem siga com o vai!
E que se faça o refrão:
"Vai-se embora e se volta
É feito de pequenos nadas
Clama-se! Declama-se! “Slama-se”!
Até que se torne um ar lendário!

Felizmente para mim,
Seus poros ainda estão respirando, apesar de sua decoração antiga.
Ela se lembra da viagem que a levou ao seu destino.
Cornélienne vendeu sua porcelana e se vestiu de lã
Para revestir seu corpo.

Apesar de seus sofrimentos íntimos,
Ela nunca cuspiu em sua França aleijada.  
Este templário da sabedoria sempre nos deixou ver por nós mesmos,
Pois, segundo ela, cada homem tem sua história.
E em cada história nasce um homem
Que cultiva suas fraquezas por sua riqueza de espírito ou por sua capacidade de discernir o bem do mal.
Empobrecido ou engrandecido, o homem só deve ver por si mesmo!  
Dizia ela.
Empobrecido ou ampliado, o homem só deve aprender por ele mesmo!  
Dizia ela.
Pois, cada homem tem a sua história.

Ela viu verdes e não maduros
Do outro lado da fronteira, minha avó,
Sob sua armadura floresce um rosto doce
Ferido de rugas de coragem, tão bonito quanto o gladíolo!

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VÉRITABLE PAROLIÈRE, par LORD MYKE JAM

Véritable parolière, posée sur une étagère en bois d’ébène,
A côté du malade, imagine l’air de Molière.
Ses pensées muettes murmurent
Dans une coque de lambi désuète
Le livre secret d’une vie amère.
Avare de poésie,
Il fallait veiller toute la nuit pour entendre le récit journalier de cette ménagère.
Elle se mettait à nu de ses errances du passé.
Éberlué, je lui volais la hantise des combats fabulesques,
Que dis-je ! Je lui volais la hantise des combats romanesques !
Du corbeau et de la colombe qu’elle n’osait m’avouer
Car dès l’origine, disait-elle
C’est elle qui a eu le bon rôle.
Depuis, rares sont ceux que son envol rend heureux.
Pourtant, il n’est pas plus dangereux qu’un autre.
La part d’obscure, chez lui, est toute à l’extérieur,
Mais s’il faut de la nuit trouver un responsable,
Je suis toute désignée ! disait-elle.
La chouette ou le chat noir savent de quoi je parle.

Ridée et sèche comme ces vieux troncs secs
Qui fleurissent dans la forêt.
Ses idées mûrissaient face au passé douloureux
Pour s’emmurer dans l’espérance d’un avenir heureux.
Dure et sèche d’aspect, je ne l’ai jamais vue juteuse.
Pourtant sa peau crevassée se fragilisait d’un noir douteux
Dans des larmes qu’elle a sans doute versées.
Je pouvais lire dans ses yeux,
Couleur de son époque controversée,
Chocolat blanc, délayé de lait ça fait mieux,
Café crème, café au lait, ça tisse les traits aussi vite que les liens
Mais ça se casse aussi vite que des tresses.
Voilà les raisons cachetées de son immense détresse.
On ne peut cacher éternellement qu’on est mulâtresse

Que les tuiles du souvenir s’embringuent dans la déconstruction
Afin que la reconstruction se fasse dans la bringue avec les briques
Et que Saint Briquet rallume la flamme
Pour qu’il jaillisse de ce mur, à tout jamais, les flaques d’une mère en crise !

Ridée et sèche comme ces vieux troncs secs qui fleurissent dans la forêt,
Elle est née aux Abymes, Guadeloupe,
Île de beauté, sa peau est une écorce,
Le corps de l’arbre que l’on abîme, que l’on écorche,
Déraciné de ses racines pour le jeter dans l’abîme.
Ses cicatrices se sont faites de l’intérieur.
La plaie demeure fermée mais se fragilise
A vue d’œil.
Pourtant on ne lui avait rien gravé,
Juste des murmures qui ont fait office de vent.
Juste des regards qui en disent long,
Des mots de roses épineuses servant de haches
Qui ressurgissent dans ses pensés, à la hâte, sous forme d’idées d’un noir révolu,
Pendues à la branche des seigneurs.
A partir de mots épineux qui la travaillaient dans le temps;
L’arbuste droit devenait rosier et plus personne ne pouvait l’atteindre.
Elle en a vu des vertes et des pas mûres
De l’autre côté de la frontière, mon aïeule !
Sous son armure, fleurit un doux visage
Meurtri de rides, de courage, aussi belle que le glaïeul !
Et sur sa peau, mettez de l’enduit, afin que se tarisse sa source d’amertume.

Que le va s’en aille avec le vient !
Et que le vient s’en aille avec le va !
Et que le refrain fasse :
“Ça s'en va et ça revient  
C'est fait de tout petits riens
Ça se clame! Ça se déclame! Et ça se slame!
Jusqu’à devenir un air légendaire! “

Heureusement pour moi,
Ses pores respirent encore malgré son vieux décor.
Elle se souvient du voyage qui l’a menée à bon port.
Cornélienne a vendu sa porcelaine et s’est vêtue de laine
Pour revêtir son corps.

Malgré ses souffrances intimes,
Elle n’a jamais craché sur sa France infirme.
Ce templier de la sagesse nous a toujours laissé voir par nous-mêmes,
Car selon elle, chaque homme a son histoire.
Et dans toute histoire naît un homme
Qui cultive ses faiblesses par sa richesse d’esprit
Ou par sa capacité à discerner le bien du mal.
Appauvri ou agrandi l’homme ne doit voir que par lui même !
Disait-elle.
Appauvri ou agrandi, l’homme ne doit apprendre que par lui-même!
Disait-elle.
Car chaque homme a son histoire.

Elle en a vu des vertes et des pas mûres
De l’autre côté de la frontière, mon aïeule,
Sous son armure fleurit un doux visage
Meurtri de rides de courage, aussi belle que le glaïeul !


[Traduzido por Caio A. Zini]

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