Filme nº 12 - OS AMANTES DE KATIE TIPPEL (Dirigido por Paul Verhoeven, 1975)
Katie Tippel (título holandês: Keetje Tippel) é um filme de 1975, de Paul Verhoeven. O filme é baseado nas memórias de Neel Doff (1858–1942) e foi o filme holandês mais caro produzido até então, sendo um sucesso de bilheteira e o filme número um na Holanda no ano com 1,8 milhões de espectadores e um dos 10 filmes holandeses mais populares de sempre na época.
Finalizando: "Ao chegar a casa de Hugo, Katie adapta-se à vida da burguesia, mas depressa se sente incomodada por ter de espiar alguns dos lojistas menos abastados de Amesterdão para ver a quem Hugo deve recusar crédito. Depois de ser exposta numa cafetaria e de lhe atirarem chocolate quente para a cara, Katie diz a Hugo que não fará mais o seu trabalho sujo. Logo Hugo informa Katie que pretende casar com a filha do diretor do banco onde trabalha. Embora Hugo proponha um acordo mesmo depois de se casar, Katie corre para a rua e junta-se a uma marcha socialista. A polícia chega para dispersar o protesto e abre fogo sobre os manifestantes. Durante a confusão, Katie reencontra-se com George e Andre, que também estão presentes. André é baleado no braço e desmaia, batendo com a cabeça. George leva-os até uma carruagem que espera ali perto e André e Katie embarcam nela, levando-os para a mansão de André no campo. Katie fica com ele e, quando ele acorda, torna-se claro que um romance vai florescer entre os dois. Discutem o assunto do dinheiro, e Katie diz a Andre que "o dinheiro transforma as pessoas em sacanas". Quando o ferimento na cabeça de André começa a sangrar, Katie informa André que a melhor cura é sugar o sangue. "Está melhor", diz ela, com um fio de sangue a escorrer-lhe do canto da boca. A imagem congela e surge uma legenda a informar-nos que o filme é baseado em factos reais da vida de Neel Doff e que "o seu espírito indomável continua vivo neste filme". Extraído de: "Top 20 Dutch Features, 1945-1989". Variety. 29 October 1990. p. 46.
As semanas passam, enquanto o pai de Katie trabalha numa fábrica com um salário baixo e Mina cai no alcoolismo. Ao tentar roubar pão, Katie é deixada inconsciente por um polícia e levada para um sanatório. É claro que o seu corpo é o seu único bem quando um médico diagnostica tuberculose, mas recusa o tratamento a não ser que ela durma com ele. Não é claro se isto acontece, mas ao receber alta, Katie reúne-se com a sua família e descobre que o pai foi despedido e a irmã está demasiado embriagada para dormir com clientes. A mãe de Katie decide que, em vez de deixar a família passar fome, Katie também se deve prostituir.
Uma comparação entre a atuação da atriz e a narração apresentada no primeiro livro da Trilogia da Fome, Dias de Fome e Desamparo, apresentado nas resenhas anteriores, pode-se notar que a atriz Monique Van de Ven exagera nas feições e atua, por vezes, com um comportamento infantil da personagem de Katie, por vezes também com um comportamento explosivo, detalhes adicionados pela própria atriz e não vemos na obra, mas não prejudica de maneira alguma sua performance que acaba conferindo à personagem, sua sexualidade, despertada após ela deixar a família e ser introduzida à prostituição com a partida de sua irmã mais velha, sexualidade que podemos ver nas várias cenas as quais a atriz mostra seu belo corpo e explicando o que Katie despertava nos homens, desejos luxuriosos, inclusive há uma cena de estupro, perpetrado pelo seu primeiro patrão, apesar de ela resistir e que torna a cena ainda mais forte, mas não tinha forças, demonstra a crueza da realidade que ela vivia, e após o ato, Katie quebra a vidraça da loja com uma pedra, fato que, posteriormente, rompe sua resistência à prostituição vista recriminou sua irmã por se prostituir, mas depois cedeu aos pedidos dela e depois ao da mãe que também a estimulou e já a usava desde criança por sua notável beleza. Ao desenrolar dos quadros, nota-se uma relação de sexualidade e inocência nos traços e na interpretação de Monique, aliás, esse é o ponto que torna o filme mais leve que o livro, demonstrando que mesmo após o estupro, ela se mantém a mesma, não ocorrendo uma degradação de seu ego.
A respeito da intenção original de Verhoeven, destacar o aspecto político do momento o qual a Holanda passava, da ascensão da influência marxista, a industrialização e o crescimento da classe trabalhadora, após a primavera dos povos aparece nas condições insalubres de trabalho em uma tecelagem mostrada assim que a família chega em Amsterdã; a situação precária de moradia da família; a questão da prostituição não só de Katie, mas de sua irmã e de seu irmão menor que ela o flagra em um banheiro público com um senhor e depois eles, com fome, roubam pão e mais pessoas na rua fazem o mesmo, mostrando a precariedade até para a população se alimentar; uma passeata noturna de trabalhadores que Katie se junta ao seu amigos, o pintor George e o playboy André. O aspecto de como a saúde é tratada aparece quando Katie é internada para tratar uma tuberculose, então podemos ver como era um hospital nesta época e que ela, com sua beleza, teve que usá-la para conseguir um bom tratamento e não morrer, como ela viu acontecer com uma das pacientes onde ela estava internada.
As diferenças do primeiro livro, Dias de Fome e Desamparo, em relação às partes que passam no filme, o leitor verá que o filme começa em uma parte já avançada e de maneira errada, com a família chegando em Amsterdã ao invés de chegar na Bélgica, como deveria ser, portanto, as partes acontecidas na Bélgica, no livro, se transpuseram para Amsterdã, uma grande perda, em minha opinião; outra parte que ocorre é a do estupro pelo patrão da loja de roupas, fato que não ocorre no livro e da mesma forma que o irmão não se prostitui, pois, no livro, ele faz números circenses, e não prostituição. A intenção de Verhoeven foi abordar os problemas sociais acontecendo na Amsterdã daquele período mesmo que sacrificando ou modificando muitas das cenas e narrativas pessoais da escritora, conferindo uma interpretação diferenciada da que se lê e se percebe da personagem. O restante da história narrada no filme que não se encontra neste primeiro volume da trilogia, mas no segundo e terceiro livros, não posso opinar, pois só vou consegui-los em língua francesa.
Para uma melhor análise, aconselho aqui a assistirem os filme Louca Paixão (Turkish Delight), seguido de Os Amantes de Katie, depois Showgirls e por último Benedetta. Assim se poderá entender o peso deste filme para o autor, tanto para antes, quanto para depois de seu lançamento. Verhoeven tem um olhar subversivo que traz a sexualidade à tona em todos estes filmes, sendo o mais bem comportado, este que vos resenho.
Elenco
Monique van de Ven como Keetje "Tippel" Oldema
Rutger Hauer como Hugo
Peter Faber como George
Andrea Domburg como a mãe de Keetje
Hannah de Leeuwe como Mina, irmã Keetje
Jan Blaaser as o pai de Keetje
Eddie Brugman como André
Jennifer Willems como Antoinette
Fonte: Alpendre, Sérgio. OS AMANTES DE KATIE TIPPEL. <http://www.contracampo.com.br/62/osamantesdekatietippel.htm>
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